Sobre voltar pra casa

Uma jornada sobre colocar a cabeça em equilíbrio, ser honesto com suas vontades e aspirações, se colocar em um lugar seu.

Sempre soube que gostava de fotografar paisagens mas, por algum motivo, fugi muito desse tipo de assunto nas minhas fotos ao longo dos anos. Quando começamos tendemos a seguir caminhos já traçados por outras pessoas e isso muitas vezes nos leva a algo que não é nosso. Entender que a fotografia é uma coisa estritamente pessoal e, pra falar a verdade, uma jornada também, foi algo que me apercebi mais tarde do que deveria, sendo posto sob meu próprio julgamento.

A fotografia de paisagem se tornou latente quando, por incrível que pareça, estive sem câmera. Quando o celular passou a ser minha única ferramenta de captura, passei a tentar cada vez mais trazer as imagens do meu imaginário para o real. No afã das imagens em baixa resolução, com possibilidade limitada de edição e ajuste, descobri o que gostava de fotografar e o que mais me aprazia nisso tudo: trazer o que era fantasia, aquilo que eu sentia ou imaginava, para o real, para uma imagem.

A busca pelo fantástico continuou e se tornou cada vez mais urgente ao ponto de me fazer tomar uma decisão: fotografaria com SLRs novamente, só não sabia se seguiria pro filme ou pro digital e acabei não tomando esta decisão, fui com os dois. Revisitei minhas fotografias antigas em busca de algo que representasse o eu de hoje e, sim, encontrei muita coisa, mas precisava de mais.

Foi daí que parti para um lugar bem conhecido, onde não precisaria lidar com imprevistos e poderia explorar todos testes que queria fazer, técnicas e tudo mais, tudo que me ajudasse a tirar aquela ideia fantástica da minha cabeça e a trouxesse pro real. A 10 minutos de casa, escolhi a Praia de Cabo Branco, lugar de muitas memórias através dos anos e que seria palco dos meus experimentos.

Do fantástico para o real

Sempre procurei fazer fotografias de corpos aquáticos de uma forma em que os traços fossem suaves, que a luz tanto da aurora quanto do ocaso fosse nítida, mas apesar de tentar bastante nunca consegui. Pra mim, era óbvio que lidar com os traços duros na superfície da água seria um problema resolvido pela dimensão do tempo, quanto mais expusesse a foto, mais pareceria que a água estaria parada. Entretanto isso me trazia mais um problema, não era água parada que buscava, mas uma ondulação suave e tranquila e após alguma pesquisa descobri a técnica chamada em inglês de ICM. Intentional Camera Movement é basicamente uma técnica que consiste em mover a câmera intencionalmente, pra qualquer lado, de qualquer forma e aí, só aí, percebi que poderia trazer as imagens que tanto imaginei para uma fotografia.

Enfim consegui fazer imagens que pudessem expressar a quietude que eu buscava e, para isso, usei a outra grandeza fotográfica muitas vezes temida, o movimento. O resultado me fez muito feliz e decidi colocar tempo x movimento como ponto central dos meus experimentos com longa exposição. Cabo Branco foi meu playground e lá pude experimentar formas de chegar aos resultados que eu tinha na cabeça e tentava trazer para a realidade.

No meio de tudo isso percebi o quanto me fazia feliz ver o nascer do sol e assim, de forma quase viciante, passei a fotografar as auroras sempre que possível. Assim como tudo nessa nova jornada fotográfica, comecei em Cabo Branco e isso pra mim é muito simbólico que aqui, tão perto de casa, eu encontrei o que tanto buscava.

Por isso que, pra mim que fotografei tanto o que não era meu, este processo inteiro é sobre voltar para casa. Colocar a cabeça em equilíbrio, ser honesto com suas vontades e aspirações, se colocar em um lugar de conforto, um lugar seu.

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